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O profissional de RIG em uma empresa de tecnologia: o caso da Sympla

Atualizado: 3 de jul.

Formada em Relações Internacionais pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), com foco em relação com investidor, Marília Robles fala sobre a atuação da Sympla em relações institucionais e governamentais, bem como sobre o uso da plataforma Inteligov no seu dia a dia.

Como você chegou à área de Relgov?

Eu trabalho com Relações Governamentais desde sempre. Já atuei na Câmara de Comércio Árabe, depois na Fiesp, atuando em Relações Internacionais e Governamentais. Depois de formada comecei a trabalhar na Stone Pagamentos, onde atuei por dois anos. Eu gosto muito de tecnologia, startup, inovação e lá vivenciei a trajetória de uma empresa que estava construindo uma área de relação governamental e sabia a importância desta área para um mercado de adquirência, que estava crescendo muito.


Era um relgov muito diferente do que eu faço hoje, voltado para o Banco Central e Cade, então eu entrei em relgov já no high level do relacionamento – aquele em que não pode ter erro de jeito nenhum. A Stone era um player novo em um mercado extremamente competitivo, com forte presença de empresas antigas e bancos, e a empresa queria outra abordagem.


Em seguida, recebi a oportunidade de ingressar na Sympla e hoje digo que vejo absolutamente tudo de relgov, desde processo de licitação para entender se é interessante para o negócio, até o relacionamento com vereadores e chefes de gabinete. Nós atuamos na esfera federal, estadual e municipal, até secretarias.

Não é algo tão comum, mas temos bastante atuação em âmbito municipal, porque um Projeto de Lei que modifica a forma como é vendido o ingresso, ou um PL que obrigue alterações em uma plataforma, por exemplo, numa capital relevante, altera completamente o modelo de negócio.


Com a minha formação, eu gosto de pensar que o bom profissional de relgov é generalista: ele entende de números, ele entende de branding para identificar qual será o impacto para a marca e para a empresa. Isso facilita muito, gosto de pensar que estou sempre alinhada ao negócio e consigo falar com propriedade – especialmente enquanto mulher, conversando com deputados e vereadores, cada vez que eu me empodero e entendo muito do meu setor, eu fico mais segura e consigo defender o setor como um todo.

Como a Sympla funciona?

A Sympla é uma empresa de tecnologia, com cerca de 400 colaboradores, e o nosso core business é a venda de ingressos, que pode ser tanto para uma aula de uma boleira que ensina a fazer bolos para 10 pessoas até o show do Nando Reis no Allianz Parque.


A Sympla tem essa característica de ser uma plataforma “do it yourself”, onde qualquer pessoa pode acessar nosso site e criar um evento, atingindo clientes que muitas vezes não tinham esse suporte tecnológico ou financeiro para vender o ingresso. Além disso nós temos milhares de pessoas que entram no nosso site todos os dias buscando novas experiências. Essas pessoas talvez não estejam procurando um curso de matemática, por exemplo, mas elas vão encontrar na Sympla e talvez aquilo faça sentido para elas. Se elas quiserem a leitura de um livro, elas vão encontrar lá também ao mesmo tempo em que procuram um congresso enorme de tecnologia que acontece em Florianópolis.


A Sympla tem essa característica e nós inovamos muito. Recentemente, durante a pandemia, antecipamos o lançamento de produtos por conta da proibição dos eventos no Brasil inteiro, nos reinventamos e criamos dois novos produtos: o Sympla Streaming, que é uma feature para você realizar o seu evento online dentro da plataforma, onde você consegue fazer todas as vendas e organizar todo o evento para que ele aconteça dentro de uma integração com a Sympla. Há algumas semanas, lançamos o Sympla Play, que é um produto focado em cursos online. Nele, o produtor de evento consegue elaborar um curso com todos os módulos necessários: inserir todas as suas aulas, avaliações, leituras, etc. É uma plataforma de conhecimento.


O que eu escuto muito dos stakeholders é que a Sympla tem um importante papel social. Se você cria um evento para 100 pessoas para falar sobre a leitura de um livro e o disponibiliza de forma gratuita, nem o produtor, nem o comprador terão custo algum. Nós vemos aulas de reforço para estudantes da rede pública sendo realizadas pelo Sympla Streaming e isso é muito legal. Além da inovação, focamos em uma conduta ética e sustentável, pensando sempre no ecossistema do qual fazemos parte.

A Sympla começou como uma startup, que é um modelo com muitos desafios de negócio, e o relgov pode não ser visto como uma prioridade. Como surgiu a criação dessa área?

É normal startups iniciarem suas operações com áreas de expansão e depois, são criadas áreas de suporte e de continuidade do negócio. No caso da Sympla não foi diferente. Em 2019, o STJ entendeu pela ilegalidade da taxa de conveniência em um processo contra uma empresa. Essa decisão começou a repercutir no Brasil inteiro.


Com este entendimento, deputados estaduais e federais, bem como vereadores, passaram a criar projetos de lei que tinham como objetivo proibir a cobrança da taxa de conveniência. Identificamos que isso era um problema, principalmente para o setor. Se um setor inteiro é afetado negativamente por uma legislação, nós temos um problema grave.


Quando o Jurídico da Sympla começou, monitorou quase 10 projetos voltados para essa temática, a Sympla começou a atuar e optou por criar a área. Hoje nós acompanhamos muitos projetos de lei sobre esse assunto. Recentemente, o STJ reviu seu entendimento e manifestou-se pela legalidade, ou seja, a taxa é considerada lícita. Agora temos outro trabalho, o de comunicar todos esses stakeholders que ainda pretendem proibir a taxa.


Vale dizer que a taxa de conveniência é a principal receita de qualquer empresa de venda de ingresso. Somos remunerados por meio dessa taxa, então uma proibição significaria modificar ou inviabilizar o modelo de negócio de todo o setor.

A Sympla atua no monitoramento, já que é preciso acompanhar o que acontece no Legislativo e Executivo, mas vocês também fazem o papel de intervenção, no sentido de educar quem constrói as políticas públicas. Isso ocorre em todas as esferas?

Nós atuamos por associação. O monitoramento da Sympla é interno, mas para além disso também fazemos parte de algumas associações. Uma delas é a Abrevin (Associação Brasileira das Empresas de Venda de Ingressos) e dentro dela temos uma consultoria de relação governamental.


Nós fazemos o processo de identificação e compartilhamos na Abrevin. Lá nós temos um monitoramento, um controle, de quais projetos são prioritários. Isso varia de acordo com o modo que estes projetos estão tramitando. A partir disso, dividimos, elencamos alguns e damos início ao relacionamento. Quanto a esse papel educativo, é sempre o tema da nossa primeira reunião. Conversamos sobre o assunto, a importância do setor, trazemos números de quantas pessoas estão empregadas nesse setor e quantas usufruem dessa conveniência. A resposta é sempre “não sabíamos, não conhecíamos esse setor, esse setor é muito importante”.


Se não tiver empresa de venda de ingresso, não tem evento. Isso porque a empresa está lá preparada para organizar o evento e não para fazer toda a gestão tecnológica e financeira que uma empresa de ingresso tem expertise em fazer. Parece simples, mas não é, por isso explicamos sempre para os stakeholders que na Sympla, por exemplo, metade da empresa é composta por times de tecnologia, para garantir que essa plataforma não tenha erros, para que a pessoa possa comprar seu ingresso sem problema algum, com segurança, transparência. Esse trabalho é sempre feito por meio da associação.


Em relação ao nível de atuação, isso varia bastante. Nós temos projetos de lei a nível federal, estadual e municipal. Alguns merecem mais atenção a nível federal, só que o grande foco tem sido o estadual. Temos também alguns stakeholders-chave, então qualquer mudança nós sabemos quem precisamos manter atualizado sobre qualquer novidade. Mas a atuação principal é a nível estadual, porque a maior parte dos projetos identificados são projetos de lei de assembleias legislativas estaduais. Ainda em nível estadual, atualmente, estamos acompanhando de perto os decretos de fechamento ou reabertura de eventos.

Você veio da área de meios de pagamento, atuando bastante no Executivo. Como é para você o balanço entre o trabalho com o Executivo e o Legislativo?

Eu acho que em termos gerais, o trabalho é de trinta ou vinte por cento no Executivo e o restante todo no Legislativo. Hoje, no Executivo eu sinto que temos menos barreiras, a conversa é menos educativa e mais técnica, o que torna mais fácil porque não precisamos passar por todo o processo de explicação.


Além disso temos o Executivo, e digo o Executivo Federal e até mesmo o Estadual, um pouco mais favorável à tecnologia, ao empreendedorismo, porque a questão do emprego e tributo está sempre muito clara para eles. Nós tratamos menos com o Executivo e o que queremos é que não precise chegar um Projeto de Lei nocivo no Executivo; nós queremos conseguir extingui-lo antes disso.

Em relação à pandemia, como foi ter que começar a acompanhar, com a regularidade e antecipação, decretos estaduais e municipais, que antes vocês não precisariam? E quanto ao fato de serem surpreendidos com modificações bruscas por conta do momento?

A pandemia é algo completamente inesperado. Para nós também foi uma escalada. A Sympla foi uma das primeiras empresas a criar um comitê de crise já em fevereiro, porque sabíamos que o cenário seria muito incerto e muito difícil.


Logo no início começamos a ouvir rumores de que existiria o lockdown em várias cidades do Brasil. Apesar de não termos tido exatamente um lockdown, começamos a reunir pronunciamentos para entender o cenário e algo que fizemos dentro de relgov foi começar a criar uma espécie de clipping para a diretoria. Todo dia enviámos notícias falando sobre a pandemia e os impactos para o setor até que começou a, de fato, a proibição dos eventos e demos início a um processo novo de acompanhamento do Diário Oficial todos os dias.


Primeiro proibiram eventos para até 500 pessoas e foram diminuindo até que chegou uma hora em que vimos que se São Paulo e Rio de Janeiro proibiram, o Brasil inteiro iria proibir. Nós documentamos, de modo a nos organizar, o que havia sido proibido e em quais termos. Quando chegou em 13 cidades houve uma paralisação geral do Brasil inteiro. O começo da pandemia demandou a leitura do Diário Oficial, mas acho que foi muito rápido. Em questão de cinco dias o Brasil inteiro estava proibindo eventos.


Nós começamos, por volta de julho, o acompanhamento para a reabertura. Criamos um time de pesquisa interno, que surgiu por iniciativa da área de relgov, para acompanharmos como era o cenário internacional de retomada de eventos e o cenário nacional de, na época, fechamentos, e também as inovações que os produtores vinham fazendo. Essa equipe traz informação tanto para a Diretoria como para clientes produtores de eventos da Sympla, e acabamos criando alguns produtos externos. Com isso nós passamos a enviar newsletters semanais para todos os produtores de eventos que querem saber mais sobre eventos na pandemia.


Desde julho nós nos aperfeiçoamos na leitura de decretos e temos a informação na nossa mão, uma vez que podemos obter informações sobre o setor diretamente e não mais dependendo da veiculação na mídia. Isso nos fez virar referência para empresas de eventos e para o setor como um todo. Nós até chegamos a fazer um evento na Sympla, chamado CS Talks, para apresentar protocolos de retomada e explicarmos como funcionam decretos para os clientes produtores de eventos da Sympla, a necessidade de ter um decreto para retomar e, com isso, passamos a agregar valor de inúmeras formas.

Quais estratégias vocês desenvolveram para conseguir obter melhores resultados, monitorar o que precisavam e comunicar essas informações?

Eu acho que organização é primordial, assim como a priorização. Nós temos reuniões internas diárias para repriorizar projetos e também temos planejamento da área. Nós definimos as prioridades em um período de três meses. Fizemos isso durante a pandemia porque tem coisas que fazem parte da rotina e precisam continuar sendo feitas, é preciso continuar monitorando os projetos de lei, por exemplo, e nós fazemos isso por meio da Inteligov e da associação.


Nós temos planilhas e tabelas, toda movimentação nova é atualizada, e, de novo, organização é primordial. É preciso ter no mínimo um documento com o que você espera para os seus próximos meses ou até mesmo semanas. Com isso, conseguimos gerenciar bem. Estar muito atento às notícias, aos stakeholders para saber se precisamos falar com alguém etc.


Existem materiais básicos de relgov que, somados ao monitoramento e ao planejamento de área, precisam estar sempre atualizados para a estratégia de negócio. Muitas empresas esperam métricas da área de relgov logo no início da criação da área, mas para uma empresa jovem como a Sympla, uma empresa que inova o tempo todo, é muito difícil colocar métricas. Nesse sentido, isso deixa de ser importante quando você está em constante crescimento, quando os objetivos mudam e você precisa mudar também.


O que fazemos é estabelecer projetos como metas, definir entregáveis. Não adianta colocar métricas que não fazem sentido, é preciso pensar se o que estamos fazendo condiz com a estratégia do negócio, se é o que o C-Level precisa para tomar as melhores decisões. É preciso sempre alinhar o que é prioridade. Relgov tem que estar muito alinhado com o C-Level, com o CEO, senão não geramos o impacto esperado.

Existe uma importância em monitorar os diários subnacionais por conta da divisão de competências constitucionais?

É muito difícil acompanhar todas as capitais, então o que fazemos é acompanhar as principais, aquelas que estão alinhadas às nossas estratégias de negócios.


Antes nós fazíamos a leitura dos diários buscando pela palavra “eventos” e era muito complicado, mas houve uma curva de aprendizado para entender quais termos fariam sentido. Hoje, com a Inteligov, nós cadastramos várias palavras que de fato nos auxiliam no monitoramento, como teatros, por exemplo, e dessa forma a informação vem bem mais certeira. Assim, a gente chega mais rápido ao decreto, que tanto proíbe quanto retoma a atividade, e também filtramos por data e vamos reduzindo a busca.


Nós temos muitos lugares para acompanhar, ou seja, eu posso ver por meio de notícias que a cidade de Curitiba, por exemplo, fechou, voltou fases no plano de reabertura. E aí como eu encontro isso? Às vezes o decreto não contém nenhuma palavra que remete a evento, ele só fala sobre a alteração feita em cima de outro decreto, então você tem que reduzir a busca para somente a data.


A partir das informações que eu tenho em mãos, eu vou refinar a busca para pesquisas. No Diário Oficial, que é uma leitura difícil e está sempre com um decreto linkado a outro, não tem como a resposta estar fácil. Antes nós monitorávamos cada diário oficial de cerca de 10 capitais, todos os dias, e era um trabalho cansativo e muitas vezes não conseguíamos todas as informações. Hoje temos ferramentas, com a Inteligov, que facilitam essa rotina.

Com essa mudança de procedimento, ao parar de fazer o monitoramento manual para passar a utilizar uma ferramenta da Inteligov, o quanto você economizou de tempo por semana na sua rotina?

Muito! Por dia eu levava em torno de 3 horas para fazer o monitoramento manual, que resultam em 15 horas semanais. Agora, eu acho que não demoro 20 minutos a cada dois dias.

Sobre o Sympla Play, vocês começaram com cursos online e em breve lançarão para entretenimento também. Isso ocorreu por conta de algum desafio regulatório? Teve algum papel da área de relgov?

O foco da plataforma é conhecimento, mas outros campos têm sido explorados. Do ponto de vista de Relgov, desde que a ideia surgiu nós começamos pesquisas para entender onde nos encaixamos na regulação, no mercado de on demand, over the top, e o que somos.


Nós estudamos regulação da Anatel e da Ancine, e entendemos que não estamos dentro de nenhuma categoria regulada. Mas também sabemos que é um novo mercado e um novo desafio regulatório, então é possível que sejamos enquadrados em novas formas, novos mercados, novos tipos de empresa.


Estamos atentos a qualquer movimentação da Anatel e da Ancine, entendendo como o nosso mercado, esse mercado de on demand, se comporta.

Novos desafios vão surgir dentro desse mercado. Nós estamos de olho.

Pensando na sua carreira toda e no que a Sympla fez, você tem algum conselho para deixar para quem precisa montar uma área de relgov e para quem está pensando em começar a monitorar a legislação?

Acredito que para começar uma área de relgov, ela deve começar muito organizada. Projetos de lei surgem, você perde o controle deles, o controle dos stakeholders. Eu acho que uma coisa que pouca gente faz é guardar os números, os e-mails e informações sobre aquele stakeholder que você conversou. Parece besteira, mas muitas pessoas não fazem isso e quando precisam não têm essas informações. E, para além disso, eu acho que a experiência é fundamental, estar sempre em contato com o meio, envolver-se em novos temas, isso é algo que vai além da sala de aula.


Minha dica é para que as pessoas participem e se envolvam em todos os projetos que fazem sentido para a área de relgov na empresa. Hoje eu toco outros projetos que me dão uma visão maior do negócio e, para relgov, você precisa conhecer muito bem o seu negócio. Às vezes você acha que precisa atuar em um projeto de lei, que na verdade mostra-se menos importante, porque a empresa vai mudar a estratégia de negócio. Dessa forma, acho que estar em contato, fazer relacionamento com C-Level, construir a imagem interna da empresa para que as pessoas possam te procurar para um conselho de especialista antes de tomar decisão, é muito importante.


Eu acredito que você vence na empresa quando você ouve o C-Level falando que não consegue mais tomar uma decisão sem um report de relgov. Acho que é isso que uma área de relgov deve fazer: tem que ajudar na continuidade e crescimento do negócio. Do ponto de vista mais pessoal, e falando deste mercado de tecnologia, o início da carreira é um momento importante para muita dedicação ao trabalho, networking com pessoas dentro da empresa e fora, reconhecimento do negócio e entendimento do setor que você está inserido.


Fazer cursos também vale muito a pena, porque são eles que vão fazer você colocar em prática o que acabou de aprender. E acredito também que após esse momento de conhecimento da empresa, do mercado e das duas prioridades de carreira, cursos mais extensos como uma pós ou um MBA fazem sentido.


Para dar início a uma área de relgov, é preciso networking, testes, falhas, acertos, organização e constante lembrança sobre propósito.

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