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  • Foto do escritorAnna Carolina Romano

Comunicação, public affairs e protagonismo feminino em Relgov


Título do artigo ao lado de uma imagem de Beatriz Gagliardo, head de public affairs da Oficina Consultoria

O caminho de Beatriz Gagliardo, head de public affairs da Oficina Consultoria, no universo político teve início muito antes de sua formação em jornalismo. 

No último evento da temporada de encontros da Comunidade Inteligov, a especialista falou sobre a sua paixão pela política - desde os primeiros passos como repórter até sua transição para as relações governamentais -, definiu o conceito de “public affairs” e relatou a sua participação em movimentos que fomentam o protagonismo feminino na área.


Do jornalismo às relações governamentais


A paixão de Beatriz pela política começou muito antes de sua formação em jornalismo. Seu primeiro contato com o jornalismo político ocorreu ainda no primeiro ano da faculdade, quando ela se tornou repórter política setorista em São Bernardo do Campo, sua cidade natal. 

“Nunca fui de família política, mas sempre gostei do tema e até assistia ao horário político. Minha mãe sempre foi muito politizada, então isso foi algo que passou para mim de alguma forma.”, revela Beatriz, destacando a influência familiar em seu interesse precoce por assuntos políticos.

Ao fazer as coberturas como repórter, ela acompanhou de perto a política local, observando eventos marcantes, incluindo a primeira eleição do presidente Lula. Também atuou como jornalista durante a gestão de governadores como Mário Covas e Geraldo Alckmin, experiências que moldaram sua visão sobre política e despertaram um interesse crescente em entender os bastidores do Congresso Nacional.


Sua incursão mais profunda no campo das relações governamentais começou durante sua pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP), em política e estratégia. Foi durante esse período que ela descobriu o fascinante mundo do lobby e como a atividade funcionava

"Como jornalista e profissional de comunicação, prestava muita atenção nas correlações dos stakeholders. Eu queria entender melhor essas dinâmicas.”, compartilha Beatriz.

Enfrentando o desafio de pesquisar sobre lobby em um contexto acadêmico carente de material específico, Beatriz encontrou orientação inesperada durante uma palestra na USP, onde Eduardo Carlos Ricardo, fundador da consultoria Patri, apresentou um case sobre lobby. Fascinada, Beatriz procurou orientação e encontrou na Patri não apenas conhecimento, mas também uma oportunidade profissional.


A transição foi rápida. Beatriz começou a coordenar a operação de estados e municípios da Patri, adentrando cada vez mais na área de relações governamentais. Sua paixão e determinação a levaram a assumir papéis de liderança, e logo ela se encontrava em Brasília, no epicentro das decisões políticas nacionais.


O que é public affairs?


Questionada por Raphael Caldas, CEO da Inteligov e apresentador do evento, sobre as diversas maneiras de se montar estratégias de comunicação, Beatriz compartilhou sua jornada de descoberta e definição do termo "public affairs", oferecendo sua perspectiva sobre essa prática tão importante nas relações governamentais.


Para Beatriz, public affairs é, essencialmente, o gerenciamento dos relacionamentos com os públicos-alvo, sendo esses o governo e a sociedade civil. No entanto, o diferencial reside na inserção de elementos e ferramentas de comunicação para potencializar essas relações. Seja construindo coalizões ou movimentos de pressão junto às autoridades, o public affairs integra comunicação e estratégia de maneira sinérgica.


Ao longo dos anos, Beatriz testemunhou a evolução do entendimento sobre atividades como o lobby e as relações governamentais. Se inicialmente eram percebidas como interações individuais e diretas, hoje essas práticas demandam abordagens mais amplas e integradas. Beatriz destaca a importância de uma estratégia abrangente, indo além do diálogo tête-à-tête para incorporar ações estratégicas de comunicação direcionadas ao ambiente de poder.


A profissional ressalta que, no cenário contemporâneo, o campo das relações governamentais transcende as práticas tradicionais. Beatriz enfatiza a necessidade de uma estratégia robusta, alinhada com ferramentas amplas do public affairs, para alcançar resultados efetivos. Ela destaca a importância de moldar discursos direcionados aos stakeholders, reconhecendo a diversidade de públicos e a necessidade de estratégias mais amplas.

"Você tem que entender qual é a sua mensagem e como o tomador de decisão vai recebê-la, seja deputado, seja senador. Quando você pisa no Congresso, você tem 5 minutos para falar com aquele parlamentar e a sua mensagem tem que ser certeira, porque senão ele não vai prestar atenção em você.", afirma Beatriz.

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A especialista afirma, no entanto, que public affairs não representa uma diferença, mas uma complementação essencial aos tradicionais campos do lobby e das relações governamentais. É a sinfonia perfeita entre estratégia, comunicação e relacionamento.

Para ilustrar esse funcionamento, Beatriz relembra um caso marcante em sua carreira, envolvendo habilidades de public affairs, em 2009. Ela trabalhou na aprovação da lei que autoriza a pesquisa com células-tronco embrionárias, pauta que enfrentou grande resistência no Congresso e no Supremo Tribunal Federal (STF). 


Na época, sua equipe criou uma campanha usando a flor gérbera como ícone de identificação da campanha, e organizaram um abraço simbólico ao STF, mobilizando a sociedade. Ao mesmo tempo, arquitetaram toda uma estratégia de diálogo com os ministros, para que o STF discutisse o assunto.

“A estratégia de diálogo com ministros, como Barroso e Ayres Britto, aliada à cobertura midiática, resultou na aprovação da lei, destacando o impacto positivo do public affairs em questões complexas.", contou Beatriz.

A head de public affairs ainda afirmou que essas ações pedem criatividade, para que consigam ultrapassar barreiras que podem ser muito difíceis: “Às vezes funciona, às vezes demora muito tempo para funcionar, às vezes não funciona, mas faz parte do processo.” pontua.


Protagonismo feminino em Relgov


Beatriz também desempenha um papel significativo no fomento do protagonismo feminino na área de relações governamentais. Sua trajetória revela a conscientização de desafios enfrentados pelas mulheres nesse setor e a busca por soluções que promovam equidade e respeito.


A inquietação de Beatriz começou ao perceber a escassez de mulheres ao seu redor durante sua atuação no Congresso. Esse cenário era refletido nas atitudes e tratamentos diferenciados recebidos por ela e suas colegas. Sentindo a necessidade de uma abordagem mais ampla e consciente das questões de gênero, Beatriz decidiu agir.


O ponto de virada aconteceu quando ela se juntou a coletivos de mulheres em relações governamentais. Ao testemunhar as conquistas dessas mulheres, surgiu a ideia de registrar essas histórias em um livro: “Relações Governamentais sob a Ótica Feminina”. Esse projeto pioneiro não apenas documentou a trajetória das mulheres na área, mas também ampliou o olhar sobre a importância da equidade de gênero.

“Eu comecei a rascunhar um resumo de um livro com o objetivo de homenagear as mulheres de relações governamentais, e registrar a trajetória e as conquistas femininas, que são fatos históricos.”, lembra Beatriz.

Na sequência, Beatriz passou a liderar a Associação Mulheres em RelGov, formalizada para lidar com as demandas crescentes das iniciativas afirmativas. No entanto, foi a divulgação de uma pesquisa, revelando que 80% das mulheres em relações governamentais já haviam enfrentado algum tipo de assédio que chamou a atenção para a necessidade de abordar diretamente o problema. 


Beatriz e suas colegas decidiram empreender esforços educativos, abordando desde a postura das mulheres até orientações para os aliados. Segundo a especialista, esses dados alarmantes destacaram a urgência de uma mudança cultural e comportamental, enfatizando a necessidade de expor tais situações para criar conscientização e pressionar por uma transformação real. 


Quanto à inserção da mulher no setor de relações governamentais, a percepção de aumento é evidente, mas persistem desafios, como o teto de vidro que limita o avanço para cargos de diretoria. A dinâmica da Associação Mulheres em RelGov, apresentada por Beatriz, representa uma rede de apoio essencial, proporcionando acolhimento e promovendo discussões relevantes.


Ao final, a mensagem de Beatriz é clara: é preciso continuar o diálogo, fortalecer redes de apoio e manter a luta por um ambiente mais justo e equitativo.


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